A intensa dor, que inundou a cidade de Santa Maria, revelou-se nas expressões de angústia e perplexidade de inúmeras pessoas, muitas delas, parecendo em estado de choque. Um ginásio abrigando várias famílias que velavam seus jovens filhos, irmãos, amigos, tragicamente falecidos. O sofrimento das pessoas que tiveram que, entre tantos, identificar os corpos de seus entes queridos. Não se pode imaginar o tamanho da dor de mães e pais, principalmente das que perderam mais de um filho ou filha. Na noite seguinte, um culto ecumênico e depois uma caminhada, com milhares de pessoas, vestidas de branco, com fotos, cartazes, flores. Todas irmanadas pelos mesmos sentimentos de dor e solidariedade. Tantas pessoas juntas em silêncio, entrecortado por orações como o Pai Nosso, por choros e aplausos em homenagem aos que se foram. De vez em quando, o canto do hino do Rio Grande do Sul, como que buscando força no espírito de bravura de seu povo. As escolas fechadas, as lojas com faixas de luto, poucas pessoas transitando nas ruas a não ser para ajudar. O país todo mobilizado. Muitos voluntários de todas as profissões e estados. O comitê de crise se organizando, a cada instante, para atender em vários pontos da cidade. As demandas e solicitações surgiam dos hospitais, das residências, das famílias em diferentes situações. A comunidade sentindo muita tristeza. Formou-se uma corrente humana, fraterna, cuidadosa e efetiva de amor. O que dizer em semelhantes situações? Nada, além de estarmos presentes, inteiros, silenciosos e empáticos, respeitando o momento doloroso e a expressão singular de cada um. Nesta hora, de luto individual e social, a solidariedade cuidadosa pode ser um grande alicerce para ultrapassarmos a dor com reverência aos mortos e compaixão pelos vivos.
Grace Wanderley de Barros Correia e Jayme Panerai Alves