
Solidariedade na dor
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Grounding em tempos de incertezas
25 de maio de 2020Setting Terapêutico em tempos de incertezas
Entendemos ou compreendemos o setting como o espaço onde a relação terapêutica acontece.
Partindo desta premissa podemos então afirmar que o local real onde esta relação ocorre não deveria, ou não deverá ser, o que impossibilitará o vinculo e o trabalho psicoterapêutico.
Temos que afirmar que nosso campo de trabalho é a realidade psíquica e não o local onde estamos atuando. Portanto o local dependerá sempre das circunstâncias do momento presente.
O vinculo será desenvolvido na reciprocidade da própria relação entre Terapeuta e Cliente com todas as suas singularidades pertinentes a cada relação em um determinado espaço e tempo.
Como seres humanos temos uma necessidade de nos conectar e co-regular com o outro. Nesse momento a prioridade é nos mantermos vivos, por isso o distanciamento físico. Mas esse manter-se vivo depende também de encontrarmos recursos para as nossas necessidades de conexão e co-regulação.
O atendimento online surge como uma possibilidade de atenuar o isolamento emocional. Oferecendo apoio e suporte ao cliente.
O setting em tempos de incertezas se constrói a partir do vínculo terapeuta cliente, esse vínculo no momento se dá pela presença virtual, pelo olhar, pela entonação da voz. Os sentimentos que estamos comunicando nessa relação constroem uma co-regulação, e isso nos faz sentir mais seguros.
Com a presença nesse setting o terapeuta comunica para o cliente: Eu estou presente, eu estou aqui com você.
Diante disto é importante pensar como reinventar o espaço-tempo simbólico da relação terapeuta- cliente frente às mudanças repentinas e profundas de uma pandemia como a que vivemos do COVID-19. O momento requer do psicoterapeuta a atualização do setting terapêutico onde quer que seja necessário acontecer.
O setting terapêutico “tradicional” da Análise Bioenergética se dá na escuta presencial do corpo desde a leitura energética, somática, simbólica. O toque, a presença, o som, a respiração, o tônus muscular como também o uso de alguns instrumentos físicos como o stool, o colchão, a raquete, etc são inerentes ao nosso fazer clínico. Aí vêm nossas indagações: como construir um setting corporal em Análise Bioenergética quando este encontro presencial não pode ocorrer, como no caso do isolamento físico?
O Cliente pode ter no seu espaço instrumentos (bolinha, toalha, etc) que o auxiliem na prática dos exercícios durante a sessão sendo acompanhado, e apoiado pelo terapeuta.
Para nós como Analistas Bioenergéticas, vivendo os mesmos medos e inseguranças dos nossos clientes, é desafiador buscar nossa auto-regulação para manter presença, vínculo, percepção aguçada do corpo, do som, dos gestos, da fala como também a adaptação da profundidade das nossas intervenções, e práticas corporais nas relações terapêuticas à distância em isolamento físico ou em grandes crises coletivas.
A nossa certeza no momento é que estar Grounded diante das incertezas é estar vivo.
Ana Lúcia Faria, Cristina Piauhy e Edna Lopes